terça-feira, 1 de julho de 2014

Cada um tem a “Caverna do Dragão” que merece

Caverna do Dragão
Quem não se lembra do desenho mais reprisado da TV brasileira de todos os tempos? Sim, é ele mesmo: “Caverna do Dragão”. Esta série animada, produzida nos EUA, começou a ser exibida aqui no Brasil lá atrás, ainda no “Xou da Xuxa”, nos longínquos anos 80, e (pasme!) até 2013 ainda era transmitida em canais como Fox Kids e Gloob (das Organizações Globo). Para quem não conhece (ou não habitou o planeta Terra nestes últimos 25 anos!), trata-se de uma aventura pra lá de emocionante, com uma temática mágica, meio medieval, meio contemporânea, que contava a história de seis adolescentes que foram a um parque de diversões e, depois de terem descarrilado numa montanha-russa chamada “Dungeons and Dragons”, foram transportados para um mundo paralelo, recheado de monstros, dragões, figuras demoníacas, armas poderosas e um mestre dos magos que os orientava a como voltar para casa. Eles nunca souberam por que foram levados a essa outra dimensão, nem jamais conseguiram voltar.

Durante a exibição dos episódios, o mistério crescia, à medida que as tentativas de voltar iam se frustrando. Diante de um intrigante e cativante roteiro, o que mais impressionou na história desta série foi que, apesar de ter conquistado uma legião de fãs pelo mundo, foram produzidos apenas 27 episódios, divididos em três temporadas. Depois disso, a série foi cancelada e, para completo desespero daqueles que se apaixonaram pela trama, nunca houve um final oficial para essa aventura, apesar de tantas especulações que surgiram depois.
            
Um dos contos do blog Jovem nerd se tornou a “Caverna do Dragão” de seus leitores. Trata-se do “web conto” seriado medieval intitulado “Mil olhos”, escrito por Fernando Russell (@cancerjack), com ilustrações de Victor Negreiro (@estivador) e revisão de Lucio Nunes (@Lucio_N). “Mil olhos” conta a história de Draszden, um soldado da guarda do rei de Annika cuja especialidade é a falcoaria. Sua caracterização é a de um homem alto, forte, com uma grande cicatriz no rosto (devido ao seu trabalho com falcões), viúvo, cuja esposa morreu no parto, e que possui um filho pequeno. É um homem esforçado e de valor, preocupado em dar à criança uma boa educação. Na trama ele se envolve com uma prostituta, mas também possui uma noiva, a quem não expressa muito sentimento ou emoção, embora demonstre respeito e apreço. A articulação de sua história se dá diante de uma sucessão de assassinatos ocorridos na lua nova, em que as vítimas eram encontradas sem os olhos.
            
A narrativa se constrói em terceira pessoa, com um narrador onisciente que nos permite vislumbrar o universo interior dos personagens, sobretudo Draszden, o protagonista. Além disso, o estilo é o de uma narração bastante pormenorizada, rica em detalhes de cenários, adornos, roupas e outros pormenores – uma ambientação que passa ao leitor a sensação de estar imerso na história, vivenciando-a, à semelhança do que acontece em um Role-Playing Game (RPG). Nessa modalidade de jogo, os participantes são brindados por seus “mestres de RPG” com narrativas detalhadas que lhes inserem em uma cena e demandam deles atitudes que constroem a aventura. A diferença, aqui, é que as imagens aguçam o imaginário do leitor, mas ele não atua modificando a história. A aventura do conto já vem delineada, mas este formato cria no leitor a impressão de que ele é participante da trama.
            
A primeira publicação deste conto seriado se deu em agosto de 2009, e cada uma de suas partes foi sendo lançada (história e ilustrações) com mais ou menos um mês de intervalo entre uma e outra. Assim, se tornou uma verdadeira febre entre os fãs do blog. Sua temática medieval é bastante conhecida do público do Jovem nerd e apreciada pela maioria. A linguagem adotada é rebuscada, com a utilização de um léxico muito peculiar que o autor escolheu para caracterizar a época (embora haja críticas dos leitores diante de certa mistura de linguagem arcaica com termos considerados contemporâneos). As ilustrações são muito elogiadas pelos leitores, num estilo realista, com coloração viva e normalmente representando uma cena rica em elementos para a construção imagética do conto. 

            
Depois de nove partes, o conto foi descontinuado pelo autor. Assim, destituído de final, “Mil olhos” deixou muitos fãs ansiosos por continuação, embora seja pouco provável que isso um dia ocorra. Até os dias de hoje há comentários de pessoas perguntando onde está o autor e quando conferirá um final ao seu texto. Como comentou um dos leitores, cada um tem a “Caverna do Dragão” que merece, o que, diante da qualidade dos textos e da audiência do blog, é realmente uma pena. 


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