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Caverna do Dragão |
Quem não se lembra do desenho
mais reprisado da TV brasileira de todos os tempos? Sim, é ele mesmo: “Caverna
do Dragão”. Esta série animada, produzida nos EUA, começou a ser exibida aqui
no Brasil lá atrás, ainda no “Xou da Xuxa”, nos longínquos anos 80, e (pasme!)
até 2013 ainda era transmitida em canais como Fox Kids e Gloob (das
Organizações Globo). Para quem não conhece (ou não habitou o planeta Terra
nestes últimos 25 anos!), trata-se de uma aventura pra lá de emocionante, com
uma temática mágica, meio medieval, meio contemporânea, que contava a história
de seis adolescentes que foram a um parque de diversões e, depois de terem descarrilado
numa montanha-russa chamada “Dungeons and Dragons”, foram transportados para um
mundo paralelo, recheado de monstros, dragões, figuras demoníacas, armas
poderosas e um mestre dos magos que os orientava a como voltar para casa. Eles
nunca souberam por que foram levados a essa outra dimensão, nem jamais
conseguiram voltar.
Durante a exibição
dos episódios, o mistério crescia, à medida que as tentativas de voltar iam se
frustrando. Diante de um intrigante e cativante roteiro, o que mais
impressionou na história desta série foi que, apesar de ter conquistado uma
legião de fãs pelo mundo, foram produzidos apenas 27 episódios, divididos em
três temporadas. Depois disso, a série foi cancelada e, para completo desespero
daqueles que se apaixonaram pela trama, nunca houve um final oficial para essa
aventura, apesar de tantas especulações que surgiram depois.
Um
dos contos do blog Jovem nerd se tornou a “Caverna do Dragão” de
seus leitores. Trata-se do “web conto” seriado medieval intitulado “Mil
olhos”, escrito por Fernando Russell
(@cancerjack), com ilustrações de Victor Negreiro (@estivador) e revisão de
Lucio Nunes (@Lucio_N). “Mil olhos” conta a história de
Draszden, um soldado da guarda do rei de Annika cuja especialidade é a
falcoaria. Sua caracterização é a de um homem alto, forte, com uma grande
cicatriz no rosto (devido ao seu trabalho com falcões), viúvo, cuja esposa
morreu no parto, e que possui um filho pequeno. É um homem esforçado e de
valor, preocupado em dar à criança uma boa educação. Na trama ele se envolve
com uma prostituta, mas também possui uma noiva, a quem não expressa muito sentimento
ou emoção, embora demonstre respeito e apreço. A articulação de sua história se
dá diante de uma sucessão de assassinatos ocorridos na lua nova, em que as
vítimas eram encontradas sem os olhos.
A
narrativa se constrói em terceira pessoa, com um narrador onisciente que nos
permite vislumbrar o universo interior dos personagens, sobretudo Draszden, o
protagonista. Além disso, o estilo é o de uma narração bastante pormenorizada,
rica em detalhes de cenários, adornos, roupas e outros pormenores – uma ambientação
que passa ao leitor a sensação de estar imerso na história, vivenciando-a, à
semelhança do que acontece em um Role-Playing Game (RPG). Nessa
modalidade de jogo, os participantes são brindados por seus “mestres de RPG” com
narrativas detalhadas que lhes inserem em uma cena e demandam deles atitudes
que constroem a aventura. A diferença, aqui, é que as imagens aguçam o
imaginário do leitor, mas ele não atua modificando a história. A aventura do
conto já vem delineada, mas este formato cria no leitor a impressão de que ele
é participante da trama.
A primeira publicação deste conto seriado se deu em
agosto de 2009, e cada uma de suas partes foi sendo lançada (história e
ilustrações) com mais ou menos um mês de intervalo entre uma e outra. Assim, se
tornou uma verdadeira febre entre os fãs do blog. Sua temática medieval
é bastante conhecida do público do Jovem nerd e apreciada pela maioria.
A linguagem adotada é rebuscada, com a utilização de um léxico muito peculiar
que o autor escolheu para caracterizar a época (embora haja críticas dos
leitores diante de certa mistura de linguagem arcaica com termos considerados
contemporâneos). As ilustrações são muito elogiadas pelos leitores, num estilo
realista, com coloração viva e normalmente representando uma cena rica em
elementos para a construção imagética do conto.
Depois
de nove partes, o conto foi descontinuado pelo autor. Assim, destituído de
final, “Mil olhos” deixou muitos fãs ansiosos por continuação, embora seja
pouco provável que isso um dia ocorra. Até os dias de hoje há comentários de pessoas perguntando
onde está o autor e quando conferirá um final ao seu texto. Como comentou um
dos leitores, cada um tem a “Caverna do Dragão” que merece, o que, diante da
qualidade dos textos e da audiência do blog, é realmente uma pena.
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