terça-feira, 1 de julho de 2014

Imagens e emoções

Engana-se quem acredita que só de textos se compõem os “Contos” do Jovem nerd. Eles também possuem ilustrações, que os caracterizam e são parte integrante deles! E elas são muito importantes para esta seção – tão importantes que a periodicidade dos contos seriados se adéqua ao tempo que o ilustrador necessita para fazer seus desenhos com qualidade (como explica Fernando Russell, autor de muitos dos contos, em suas respostas a comentários de leitores mais ávidos e ansiosos pelas publicações). Assim, este é um tema que merece uma atenção especial.
            
É interessante observar que as ilustrações que compõem os contos – especificamente “Sitala” e “1000 Olhos” – possuem uma identidade visual muito particular, facilmente percebida como pertencente ao universo de contos e histórias para o público nerd. Na verdade, as ilustrações são muito análogas àquelas de livros de RPG, obedecendo a alguns critérios técnicos semelhantes, como o uso de um estilo mais realista, com coloração viva e muita expressividade, o que ajuda o leitor a imaginar os cenários e os personagens narrados.

            
As pessoas que consomem literatura de RPG, ou propriamente jogam RPG, se alimentam da gama de elementos que as ilustrações acrescentam ao jogo. As ilustrações, por um lado, são um estímulo à imaginação dos jogadores; por outro, procuram criar um efeito de verossimilhança em uma narrativa muitas vezes de cunho absolutamente fantástico. As ilustrações dos contos do Jovem nerd, muito próximas a este universo do RPG, promovem mais ou menos esse mesmo tipo de relação, entre o texto e a imaginação do leitor, quase partícipe da história. 

1000 Olhos - parte I

As ilustrações normalmente são de cenas dos contos, e não se resumem a meros retratos. Elas possuem dinâmica narrativa e permitem a construção de contextos. Em “Mil Olhos”, por exemplo, a primeira ilustração representa o início do conto, em que o personagem principal acorda na cama de uma prostituta. O cenário é de um quarto pequeno e pouco iluminado. Vemos na imagem elementos constitutivos do personagem que está sendo apresentado, como suas vestimentas de soldado e a espada que ele carrega embainhada. Ainda não se sabe quem ele é, mas já se depreende algumas coisas sobre ele, a partir da relação texto-imagem. A ilustração ainda traz em primeiro plano a silhueta nua da prostituta, largada na cama, e o personagem Draszden de costas para ela, buscando o exterior – o que nos permite observar imageticamente o abandono da mulher e a desvalorização da prostituta, parte dos valores morais que permeiam o universo do personagem e da época retratados, os quais serão apresentados na narrativa escrita. A ilustração, assim, não somente corrobora os elementos escritos, mas possibilita a construção de interpretações que complementam e enriquecem a narrativa.
            
Sitala - parte I

No conto “Sitala”, somos transportados a uma realidade totalmente diferente de “1000 Olhos”, futurista e apocalíptica. As ilustrações são de cenas com imagens fortes, intensas e bruscas, que não apenas trazem contornos ao que é narrado, mas ajudam a conferir a própria tônica do conto. Narrado em primeira pessoa, o texto, apesar de conter um léxico coloquial, com uso de palavras fortes, que exprimem certa grosseria e violência, recheado de expressões e gírias, não constrói sozinho a carga de violência do texto. Essa carga é atribuída também e fundamentalmente às ilustrações. São elas que levam vida e coloração aos relatos, o que faz com que integrem o próprio cerne do conto.

            
Devido, assim, à profusão imaginativa que os contos do blog suscitam, as ilustrações se tornam um elemento essencial, na caracterização e ambientação das histórias e na própria constituição delas. Sem as ilustrações, os contos certamente possuiriam outras nuances.


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