Engana-se quem acredita que só
de textos se compõem os “Contos” do Jovem nerd. Eles também possuem
ilustrações, que os caracterizam e são parte integrante deles! E elas são muito
importantes para esta seção – tão importantes que a periodicidade dos contos
seriados se adéqua ao tempo que o ilustrador necessita para fazer seus desenhos
com qualidade (como explica Fernando Russell, autor de muitos dos contos, em
suas respostas a comentários de leitores mais ávidos e ansiosos pelas
publicações). Assim, este é um tema que merece uma atenção especial.
É
interessante observar que as ilustrações que compõem os contos –
especificamente “Sitala” e “1000 Olhos” – possuem uma identidade visual muito
particular, facilmente percebida como pertencente ao universo de contos e
histórias para o público nerd. Na verdade, as ilustrações são muito
análogas àquelas de livros de RPG, obedecendo a alguns critérios técnicos
semelhantes, como o uso de um estilo mais realista, com coloração viva e muita
expressividade, o que ajuda o leitor a imaginar os cenários e os personagens
narrados.
As
pessoas que consomem literatura de RPG, ou propriamente jogam RPG, se alimentam
da gama de elementos que as ilustrações acrescentam ao jogo. As ilustrações,
por um lado, são um estímulo à imaginação dos jogadores; por outro, procuram criar
um efeito de verossimilhança em uma narrativa muitas vezes de cunho
absolutamente fantástico. As ilustrações dos contos do Jovem nerd, muito
próximas a este universo do RPG, promovem mais ou menos esse mesmo tipo de
relação, entre o texto e a imaginação do leitor, quase partícipe da história.
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1000 Olhos - parte I |
As ilustrações normalmente são
de cenas dos contos, e não se resumem a meros retratos. Elas possuem dinâmica
narrativa e permitem a construção de contextos. Em “Mil Olhos”, por exemplo, a
primeira ilustração representa o início do conto, em que o personagem principal
acorda na cama de uma prostituta. O cenário é de um quarto pequeno e pouco
iluminado. Vemos na imagem elementos constitutivos do personagem que está sendo
apresentado, como suas vestimentas de soldado e a espada que ele carrega
embainhada. Ainda não se sabe quem ele é, mas já se depreende algumas coisas
sobre ele, a partir da relação texto-imagem. A ilustração ainda traz em
primeiro plano a silhueta nua da prostituta, largada na cama, e o personagem
Draszden de costas para ela, buscando o exterior – o que nos permite observar
imageticamente o abandono da mulher e a desvalorização da prostituta, parte dos
valores morais que permeiam o universo do personagem e da época retratados, os
quais serão apresentados na narrativa escrita. A ilustração, assim, não
somente corrobora os elementos escritos, mas possibilita a construção de
interpretações que complementam e enriquecem a narrativa.
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Sitala - parte I |
No conto “Sitala”, somos
transportados a uma realidade totalmente diferente de “1000 Olhos”, futurista e
apocalíptica. As ilustrações são de cenas com imagens fortes, intensas e
bruscas, que não apenas trazem contornos ao que é narrado, mas ajudam a conferir
a própria tônica do conto. Narrado em primeira pessoa, o texto, apesar de
conter um léxico coloquial, com uso de palavras fortes, que exprimem certa
grosseria e violência, recheado de expressões e gírias, não constrói sozinho a
carga de violência do texto. Essa carga é atribuída também e fundamentalmente
às ilustrações. São elas que levam vida e coloração aos relatos, o que faz com
que integrem o próprio cerne do conto.
Devido,
assim, à profusão imaginativa que os contos do blog suscitam, as
ilustrações se tornam um elemento essencial, na caracterização e ambientação
das histórias e na própria constituição delas. Sem as ilustrações, os contos certamente
possuiriam outras nuances.
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