Como vimos, esta seção do blog
Jovem Nerd é dedicada exclusivamente ao gênero conto, um tipo de narrativa de
ficção cuja extensão, bem menor que a de um romance, é apropriada a uma leitura
mais rápida, leve e dinâmica, justamente o formato pelo qual os leitores de web
mais se interessam. A evolução das histórias pode se dar de forma seriada, o
que estimula o interesse e a fidelidade dos leitores aos contos. E a plataforma
na qual os textos são disponibilizados, que é o blog, confere contornos
muito peculiares a esse tipo de produção textual, fundamentalmente a partir da
possibilidade de interação entre os autores e seus leitores.
![]() |
Sitala - parte 7 |
O
público-alvo dos contos do Jovem Nerd não é tão heterogêneo e difuso.
Normalmente, se trata de pessoas que possuem em comum o gosto pelas temáticas
que os contos adotam. E essas pessoas muitas vezes não só gostam (e muito!)
destes temas, mas também os conhecem bastante bem, sendo capazes de entender o
universo retratado, tornando-se, por isso, uma audiência crítica e rigorosa.
Obviamente, os temas são livres, mas passeiam pelo universo da fantasia, da
história e da ficção científica, essencialmente com enredos que se passam em
contextos medievais, ou em futuros apocalípticos, ou em cenários “cyberpunks”,
ou em universos fantásticos, com suas mitologias próprias. Sim, as
possibilidades são inúmeras! Dragões, robôs, zumbis, reinos tirânicos,
caravanas pelo deserto, piratas, deuses gregos... diversos elementos cabem
neste mundo fantástico da criação de contos para nerds. E o ponto comum
a essas temáticas é justamente a atmosfera de aventura e mistério que envolve
as narrativas.
Porém,
apesar de possuir uma audiência cativa, um rápido olhar voltado aos feedbacks
dos leitores dos contos do Jovem nerd possibilita observar os principais
problemas deste formato de “web conto”. São os próprios leitores que
apontam estes problemas, algumas vezes com o intuito de ajudar no aprimoramento
da escrita dos autores, outras vezes apenas para criticar sumariamente os
pontos que consideram fracos e problemáticos nos textos.
Uma
das questões apontadas é a extensão dos textos. Como vimos, o conto é uma
narrativa sucinta. E a expectativa da audiência do blog é de que os
textos postados não sejam cansativos e demasiadamente longos! Isso torna os
contos enfadonhos. As pessoas não poupam críticas a textos muito prolixos, com
pouca dinâmica ou falta de ritmo, e isso é atribuído, muitas vezes, à
insensibilidade do autor, em não perceber a importância de compor um texto bem
escrito, rico em elementos narrativos, mas, ao mesmo tempo, enxuto.
Outro
problema que os leitores apontam com frequência são os erros gramaticais. A
maior parte dos contos de Fernando Russell passam por revisão, o que limita a
ocorrência destes problemas. Mas eventualmente isso ocorre. E irrita
profundamente os leitores, passando-lhes a ideia de que o autor não escreve
bem. Talvez a rapidez com que os textos são disponibilizados e a plataforma da web
acentuem este problema.
Falhas
e incoerências internas à lógica do texto ou enredo também são alvo de crítica
dos leitores. E, se um deslize do autor talvez não fosse tão visível numa
leitura individual e particular de um conto publicado em um livro, em um blog,
com a possibilidade de tecer comentários, este deslize se torna absolutamente
notório. Quem não percebeu o erro, ao ler os comentários, se dará conta dele. E
normalmente o autor se vê na obrigação de reconhecer seu erro e se retratar. No
conto “Mil olhos”, em determinado momento o personagem principal não consegue
ler alguns manuscritos, porque se diz que ele é analfabeto. Mas, em uma cena anterior,
o personagem havia “escrito” alguma coisa. E isso não passa despercebido pelos
leitores. Assim, esta é outra particularidade de se escrever contos em um blog,
contando com a opinião e a participação de quem os lê.
![]() |
1000 Olhos - parte 8 |
A
originalidade também é um ponto importante dos “web contos” do blog. Os
leitores, ao se depararem com um texto, rapidamente estabelecem associações e
percebem as referências feitas e as influências constantes nos textos. E eles
questionam o autor, se essas associações foram intencionais, fortuitas ou
apenas fruto de pouca criatividade. No
conto “Sitala”, por exemplo, isso acontece de forma massiva, já no primeiro post,
uma vez que a temática do futuro apocalíptico devido à propagação de um vírus
letal resvala em diversos enredos já existentes.
Em determinado momento, Fernando Russell
escreve, em resposta a uma indagação de algum de seus vorazes leitores: “Gley,
como eu comentei mais acima, é um conto, de periodicidade mensal, previsto para
ter 10 capítulos. Se jogarem muitas pedras pode ter menos capítulos ou ser
cancelado, como Jericho.” Essa fala mostra que as respostas dos leitores
influenciam o autor. Não é fácil se deparar de forma tão direta e intensa com
as críticas e feedbacks de quem consome sua produção. Lembremos de
Stephen Fry, que nos anos 1990 saiu de cena do teatro inglês (e do cinema) devido
à crítica negativa de uma de suas peças. Decidiu sumir por um tempo, mergulhado
em depressão.
Pois
é. É desafiador a qualquer autor estabelecer uma relação direta com seus
leitores e se expor a todo tipo de críticas. Muitas vezes, o tom negativo das
opiniões alheias acaba destruindo a imagem que o autor faz de sua história,
como um possível sucesso, e derrubando o seu ímpeto criativo. Com tudo isso,
vê-se bem que a experiência do “web
conto” no blog é algo muito particular, sobretudo porque considera a
noção de interatividade com a audiência sob um prisma muito intenso. E é difícil para o autor ser confrontado e indagado
por seus leitores de forma tão expressiva. O resultado dessa interação é no
mínimo interessante de se observar, e muito diferente dos contos publicados em
livros normais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário