terça-feira, 1 de julho de 2014

Escrevendo na web

Como vimos, esta seção do blog Jovem Nerd é dedicada exclusivamente ao gênero conto, um tipo de narrativa de ficção cuja extensão, bem menor que a de um romance, é apropriada a uma leitura mais rápida, leve e dinâmica, justamente o formato pelo qual os leitores de web mais se interessam. A evolução das histórias pode se dar de forma seriada, o que estimula o interesse e a fidelidade dos leitores aos contos. E a plataforma na qual os textos são disponibilizados, que é o blog, confere contornos muito peculiares a esse tipo de produção textual, fundamentalmente a partir da possibilidade de interação entre os autores e seus leitores.

Sitala - parte 7

 O público-alvo dos contos do Jovem Nerd não é tão heterogêneo e difuso. Normalmente, se trata de pessoas que possuem em comum o gosto pelas temáticas que os contos adotam. E essas pessoas muitas vezes não só gostam (e muito!) destes temas, mas também os conhecem bastante bem, sendo capazes de entender o universo retratado, tornando-se, por isso, uma audiência crítica e rigorosa. 

Obviamente, os temas são livres, mas passeiam pelo universo da fantasia, da história e da ficção científica, essencialmente com enredos que se passam em contextos medievais, ou em futuros apocalípticos, ou em cenários “cyberpunks”, ou em universos fantásticos, com suas mitologias próprias. Sim, as possibilidades são inúmeras! Dragões, robôs, zumbis, reinos tirânicos, caravanas pelo deserto, piratas, deuses gregos... diversos elementos cabem neste mundo fantástico da criação de contos para nerds. E o ponto comum a essas temáticas é justamente a atmosfera de aventura e mistério que envolve as narrativas.
            
Porém, apesar de possuir uma audiência cativa, um rápido olhar voltado aos feedbacks dos leitores dos contos do Jovem nerd possibilita observar os principais problemas deste formato de “web conto”. São os próprios leitores que apontam estes problemas, algumas vezes com o intuito de ajudar no aprimoramento da escrita dos autores, outras vezes apenas para criticar sumariamente os pontos que consideram fracos e problemáticos nos textos.
            
Uma das questões apontadas é a extensão dos textos. Como vimos, o conto é uma narrativa sucinta. E a expectativa da audiência do blog é de que os textos postados não sejam cansativos e demasiadamente longos! Isso torna os contos enfadonhos. As pessoas não poupam críticas a textos muito prolixos, com pouca dinâmica ou falta de ritmo, e isso é atribuído, muitas vezes, à insensibilidade do autor, em não perceber a importância de compor um texto bem escrito, rico em elementos narrativos, mas, ao mesmo tempo, enxuto.
            
Outro problema que os leitores apontam com frequência são os erros gramaticais. A maior parte dos contos de Fernando Russell passam por revisão, o que limita a ocorrência destes problemas. Mas eventualmente isso ocorre. E irrita profundamente os leitores, passando-lhes a ideia de que o autor não escreve bem. Talvez a rapidez com que os textos são disponibilizados e a plataforma da web acentuem este problema.
            
Falhas e incoerências internas à lógica do texto ou enredo também são alvo de crítica dos leitores. E, se um deslize do autor talvez não fosse tão visível numa leitura individual e particular de um conto publicado em um livro, em um blog, com a possibilidade de tecer comentários, este deslize se torna absolutamente notório. Quem não percebeu o erro, ao ler os comentários, se dará conta dele. E normalmente o autor se vê na obrigação de reconhecer seu erro e se retratar. No conto “Mil olhos”, em determinado momento o personagem principal não consegue ler alguns manuscritos, porque se diz que ele é analfabeto. Mas, em uma cena anterior, o personagem havia “escrito” alguma coisa. E isso não passa despercebido pelos leitores. Assim, esta é outra particularidade de se escrever contos em um blog, contando com a opinião e a participação de quem os lê.

1000 Olhos - parte 8

A originalidade também é um ponto importante dos “web contos” do blog. Os leitores, ao se depararem com um texto, rapidamente estabelecem associações e percebem as referências feitas e as influências constantes nos textos. E eles questionam o autor, se essas associações foram intencionais, fortuitas ou apenas fruto de pouca criatividade.  No conto “Sitala”, por exemplo, isso acontece de forma massiva, já no primeiro post, uma vez que a temática do futuro apocalíptico devido à propagação de um vírus letal resvala em diversos enredos já existentes.
             
Em determinado momento, Fernando Russell escreve, em resposta a uma indagação de algum de seus vorazes leitores: “Gley, como eu comentei mais acima, é um conto, de periodicidade mensal, previsto para ter 10 capítulos. Se jogarem muitas pedras pode ter menos capítulos ou ser cancelado, como Jericho.” Essa fala mostra que as respostas dos leitores influenciam o autor. Não é fácil se deparar de forma tão direta e intensa com as críticas e feedbacks de quem consome sua produção. Lembremos de Stephen Fry, que nos anos 1990 saiu de cena do teatro inglês (e do cinema) devido à crítica negativa de uma de suas peças. Decidiu sumir por um tempo, mergulhado em depressão.

            
Pois é. É desafiador a qualquer autor estabelecer uma relação direta com seus leitores e se expor a todo tipo de críticas. Muitas vezes, o tom negativo das opiniões alheias acaba destruindo a imagem que o autor faz de sua história, como um possível sucesso, e derrubando o seu ímpeto criativo. Com tudo isso, vê-se bem que a experiência do “web conto” no blog é algo muito particular, sobretudo porque considera a noção de interatividade com a audiência sob um prisma muito intenso. E é difícil para o autor ser confrontado e indagado por seus leitores de forma tão expressiva. O resultado dessa interação é no mínimo interessante de se observar, e muito diferente dos contos publicados em livros normais. 


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